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Doppelgänger - A duplicata do mal

Perfurar em espiral. Martelo de Thor. E, claro, o melhor mesmo é descobrir que, no fim, sua armadura está quebrada! Esses são alguns dos percalços que os aventureiros de Rune-Midgard passam ao enfrentar este MVP que jaz em um dos mapas da misteriosa Torre de Geffen: O Doppelgänger. Alguns podem pensar: "Mas, caramba, a Gravity não teve criatividade em criar um sprite diferente do da classe de cavaleiro não?" Vamos com calma, pois os mitos que giram em torno da controversa figura do Doppelgänger vão muito além de mais um MVP que habita o extenso universo de Ragnarök Online. Aliás, eles são recheados de histórias sobrenaturais, dignas de um filme de terror de primeira! Diretamente do folclore alemão, o nosso post de hoje é dedicado a ele, uma possível cópia mal assombrada...Sua! Está preparado? Então apague as luzes do quarto e conheça mais sobre o mito da duplicata ambulante.

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Sprite da carta do Doppelgänger


Etimologia

Do alemão, doppel que dizer "duplo; duplicata"; gänger quer dizer "andarilho; ambulante; vagante".  Logo, doppelgänger pode ser traduzido como "duplicata vagante; ambulante". 


Origens

A origem do mito do doppelgänger parece ter vindo do folclore alemão. Contudo, encontra referências em outros mitos de outras culturas, como na própria mitologia nórdica e nas mitologias egípcia e bretã. De acordo com as teorias paranormais, o doppelgänger é a cópia idêntica ou igual de uma pessoa viva, e indica má sorte. Para o folclore alemão, é um ser sobrenatural que teria o poder de se duplicar em uma cópia idêntica de sua vítima, semelhante ao metamorfo - criatura que tem a capacidade de se transformar em qualquer coisa (meta do grego μετα- meta "mudar" morfo do grego μορφή morphé "forma"). Na mitologia egípcia, encontramos referência no espírito Ka que possuía os mesmos sentimentos e memórias que a pessoa à cuja duplicata pertence. Na mitologia nórdica, a vardøger é uma duplicata espectral que antecede o nascimento de um ser humano realizando suas mesmas ações com antecedência. Já na mitologia bretã, bem como nos folclores da Cornualha e da Normandia, o doppelgänger é uma versão de um Ankou, a personificação da própria morte.

Pintura How they met themselves (Como elas conheceram elas mesmas), por Daniel Gabriel Rossetti (1884)


História

Segundo os mais supersticiosos, todos nós temos um gêmeo perambulando por aí, ou já tivemos um em uma época antiga, ou viremos a ter um no futuro. As mitologias mais antigas vão além e dizem que, além de termos um gêmeo perambulando por aí, enxergá-lo é um sinal de mau agouro e significaria a morte próxima, já que indicaria que sua alma estaria saindo do corpo. E quem conversasse com o próprio doppelgänger ouviria conselhos de vida, mas, na verdade, não passariam de ideias desvirtuadas e maléficas. O termo doppelgänger foi usado pela primeira vez em 1796, no romance alemão Siebenkäs, do escritor alemão Jean Paul, cujo protagonista é convencido por seu doppelgänger (ou seja, sua cópia) a forjar a própria morte para se livrar da esposa.

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Capa do romance Siebenkäs, de Jean Paul


O folclore alemão conta uma lenda de uma criatura mágica que teria capacidade de copiar sua vítima nas características mais profundas, acompanhando-a por onde fosse, sem más intenções. Contudo, na literatura geral, o doppelgänger é considerado o lado negativo da pessoa, influenciando-a a fazer coisas ruins que, muitas vezes, não fariam por si próprias. No geral, ter um doppelgänger seu perambulando por aí não é coisa nada boa...

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O doppelgänger, muitas vezes, indica a morte próxima e simboliza a própria alma saindo do corpo (autor desconhecido)


Relatos Reais

Se o doppelgänger é apenas parte de um mito ou uma manifestação paranormal, ninguém sabe ao certo. Mas há relatos reais de pessoas que juram que já viram um ou se depararam com o de outra pessoa. Abaixo, alguns relatos famosos:


Goethe e seu doppelgänger

Um dos maiores escritores da literatura alemã, Johann Wolfang von Goethe, autor do famoso romance Fausto, relata em sua autobiografia que, ao despedir-se de sua esposa, Frederica Brion, teria visto uma cópia de si mesmo andando no sentido contrário. Contudo, as roupas eram diferentes.

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Goethe, em 1828, óleo sobre tela (autor desconhecido)


O caso (estranho) de Emile Sageé

A professora Emile Sageé, que lecionou francês na Letônia durante o século XIX, participou de um dos casos mais fantásticos de doppelgänger. Durante uma de suas aulas, 13 alunas alegaram ter visto um doppelgänger ao lado dela imitando seus movimentos no quadro negro. Um incidente semelhante ocorreu também em um jantar, quando o seu doppelgänger foi visto de pé atrás dela, imitando seus movimentos na hora de comer. Contudo, o evento mais bizarro ocorreu à vista de 42 alunos, em um dia normal de verão de 1846: Durante uma aula de costura, as alunas, sentadas às mesas de trabalho, puderam ver com nitidez sua professora cuidando do jardim. Quando o professor da disciplina se retirou de sala, a duplicata de Sageé apareceu sentada na cadeira, enquanto a verdadeira se encontrava no jardim. Os alunos perceberam o cansaço da professora no jardim, enquanto a duplicata mostrava-se imóvel. Uma das alunas tentou tocá-la, mas ela desapareceu lentamente. Em relação aos eventos, a professora alegou nunca ter visto seu doppelgänger. Contudo, admitia se sentir exausta no momento em que ele aparecia. 

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O doppelgänger pode tanto acompanhar a vítima, como também imitar seus movimentos (autor desconhecido)


O caso do sanatório de Waverly Hills

Não é de hoje que sanatórios e hospitais são fontes inesgotáveis de boas histórias de terror. Para tanto, uma equipe de investigação sobrenatural de um programa chamado Ghost Adventures afirma ter presenciado o fenômeno doppelgänger no sanatório Waverly Hills, em Louisville, EUA: Um dos membros da equipe, Aaron Goodwin, jura ter visto a duplicata do seu colega, Nick Groff, perturbando as gravações.


A Rainha Elizabeth I e o prenúncio da sua morte

A Rainha Elizabeth I afirmou ter visto uma duplicata sua deitada em sua cama. Segundo as lendas, ver o próprio doppelgänger indica o prenúncio da própria morte. Não deu outra: A rainha morreu logo em seguida...

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A rainha da Inglaterra, Elizabeth I, cujo reinado estendeu-se de 1558 até a sua morte, em 1603 (autor desconhecido)


Shelley e o naufrágio

Um dos maiores poetas de língua inglesa, Percy Bysshe Shelley, diz ter se deparado com sua duplicata na Itália, apontando, silenciosamente, em direção ao Mar Mediterrâneo. Pouco tempo depois, em 1822, Shelley morreu em um naufrágio lá mesmo...


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O jovem poeta inglês, Shelley. Morreu pouco antes de completar 30 anos (por Alfred Clint, em 1819).



Freud explica...

Claro que casos assim a ciência não deixou passar. Para os mais céticos, há explicações científicas para os casos de pessoas que juram ter visto uma duplicata sua perambulando por aí, e não passam de distúrbios de ordem psicológica ou neurológica.

Autoscopia

É um termo da Psiquiatria e da Neurologia para um tipo de alucinação que a pessoa afirma ver a si próprio e o ambiente ao seu redor como se estivesse fora do próprio corpo. Burning e Blake (2006), do Laboratório de Neurociência Cognitiva da École Polytechnique Federale de Laussanne, em Genebra, apontam fatores clássicos que podem induzir à autoscopia e, consequentemente, ao fenômeno doppelgänger: Sono, abuso de drogas e anestesia geral. Heautoscopia seria a experiência de viver o duplo, relacionada a esse fenômeno.


O "outro eu" de Sigmund Freud

Para a Psicologia e a Psicanálise, a explicação para o fato pode ser compreendida através do termo alter ego (do latim, alter "outro"; ego "eu"). Seria como um "segundo eu", no qual acredita-se ser uma manifestação de uma personalidade distinta da própria pessoa, como uma personagem ficcional, cujas características, o pensamento e o discurso são semelhantes. O termo surgiu no século XIX, cunhado pelo psicanalista Sigmund Freud, e é compreendido como uma desordem de identidade dissociativa. 


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Retrato do psicanalista Sigmund Freud. Pioneiro nos estudos do subconsciente como fonte das histerias e das psicoses, e fundador da Psicanálise. Para ele, o nível da consciência recai sobre 3 entidades: o id, o ego e o superego.


O mau funcionamento do cérebro

Para os neurologistas, o fenômeno doppelgänger é, na verdade, causado pelo mau funcionamento do lobo temporoparietal esquerdo, uma região do cérebro na qual estão guardadas informações a respeito da própria imagem e personalidade em relação ao mundo. Quando essa região encontra problemas, ocasiona distúrbios nas sensações táteis, de equilíbrio e visuais, e elas acabam não coincidindo entre si. Como consequência, a compreensão sobre os limites do que é pessoal ou extrapessoal se comprometem, gerando a intrigante sensação de autoscopia, ou o popular fenômeno doppelgänger.


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A alucinação é um dos problemas ocasionados pelo comprometimento nas regiões do cérebro (autor desconhecido).


Na cultura pop

As lendas por trás do doppelgänger renderam ricas ideias de enredos para filmes, séries e até mesmo jogos. Confira algumas referências na mídia sobre o fenômeno:


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O filme Doppelgänger (no Brasil, "Enigma Mortal") com a atriz Drew Barrymore, em 1993.


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O demônio do jogo Devil May Cry, Doppelgänger.

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Cena do episódio 11 da 6ª temporada da série Supernatural. Dean Winchester depara-se com seu próprio doppelgänger. O episódio gira em torno da lenda.

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Na literatura japonesa, Murakami parece aludir ao fenômeno doppelgänger na relação platônica da personagem Sumire para com a misteriosa Miu, na obra "Minha querida Sputnik" (2008).

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O filme Cisne Negro (2010), com Natalie Portman, faz alusão ao fenômeno doppelgänger de maneira mais psicológica e aterrorizante.


E o Doppelgänger de Ragnarök Online?

O sprite do Doppelgänger de Ragnarök Online não é simples por acaso: Muito provavelmente, faz alusão à duplicata de algum cavaleiro que já andou pelas misteriosas terras de Geffen e que acabou sendo a primeira vítima do espírito duplicador. Talvez ele tenha sido morto pela própria duplicata e ela jaz na Torre de Geffen até os dias de hoje. Não se sabe da história verdadeira, mas perceba que seus mobs são os Pesadelos, em uma possível alusão às manifestações dos doppelgänger ligadas ao sono. Fora que seria coisa de pesadelo mesmo lutar com uma cópia de nós mesmos! Imagina só se o MVP da Torre de Geffen tivesse o poder de copiar a imagem do seu adversário?

Doppelganger
Quem será o "verdadeiro" cavaleiro por trás da duplicata da Torre de Geffen?



 Observações: as referências postadas aqui são fruto de pesquisas pessoais e suas fontes não são oficiais. Não houve qualquer pronunciamento oficial da Gravity para confirmar a veracidade delas. Portanto, qualquer erro e/ou incoerência, por favor, fique à vontade para entrar em contato. :) 

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