O que é o Ragnarök? Muitos já responderiam de prontidão que é um jogo online consagrado entre muitos como o primeiro MMO de suas vidas. De fato, talvez seja. Contudo, o termo ragnarök já remete a algo bastante antigo, dos tempos remotos do século XIII, através de uma coleção antiquíssima de poemas escritos em nórdico antigo chamada de Edda Poética, presente no manuscrito chamado Codex Regius. Esse manuscrito relata os mitos e lendas - transmitidos oralmente - sobre heróis e deuses, cujas narrativas permeiam a criação do universo até o seu fim. Aliás, o termo ragnarök remete, de maneira simplista, à morte dos deuses, resultando em catástrofes naturais que ocasionariam o fim de tudo aquilo que existe. Portanto, configura-se como uma escatologia da mitologia nórdica, algo bastante comum em diversas mitologias e religiões pelo mundo (escatologia, do grego clássico eskatos εσχατος "último" + o sufixo -logia λέγειν "falar". Campo teológico que trata do destino final do mundo em uma dada religião - vide o Apocalipse, no cristianismo).
Etimologia
O destino final dos deuses
A partir daí, a volvä narra os fatos seguintes, ao longo do breve poema, mencionando o estremecer e a aflição da grande Yggdrasil - a árvore do mundo -; o contorcer da furiosa serpente Jörmungandr, ocasionando colisões; o surgimento daqueles que habitam o fogo - os jötnar; o lamento dos anões frente à própria impotência; o avançar dos povos do sul e a separação dos céus. Os deuses, então, iniciam a batalha contra os invasores: Odin luta e acaba sendo devorado vivo pelo lobo Fenrir - pai dos lobos Skoll e Hatii, filho de Loki -, para a tristeza de sua esposa Frigga. Contudo, o lobo acaba sendo esfaqueado no coração e morto por seu filho, Víðarr. Thor, também filho de Odin, luta contra a furiosa serpente Jörmungandr e, depois de uma luta exaustiva, o deus do trovão cai desmaiado após andar nove passos. As pessoas se desesperam e fogem de suas casas; o sol perde sua cor, torna-se negro; a terra se afunda nos mares, as estrelas se apagam e, por fim, as chamas tocam o céu.
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Foto do manuscrito Codex Regius, datado do século XIII. |
A palavra ragnarök vem do nórdico antigo - língua falada pelos povos da Escandinávia durante a era viking e a idade média nórdica, entre os anos 800-1.300. Etimologicamente falando, ela é composta por duas palavras: ragna, plural de regin "deuses; forças dominantes" e rök, derivada do proto-germânico - língua-mãe que teria originado as atuais línguas germânicas como o inglês, alemão, dinamarquês, islandês e entre outras - que indicaria algo como "causa; relação, destino". Portanto, os historiadores e estudiosos da cultura nórdica entendem o termo ragnarök como o "destino final das forças dominantes", ou seja, os deuses.
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Víðarr, filho de Odin, esfaqueia o lobo Fenrir, após este ter engolido seu pai vivo durante a batalha do ragnarök. (ilustração de W. G. Collingwood - 1908) |
A Edda poética, mencionada anteriormente, traz em seu corpo diversas referências ao ragnarök. Em um de seus poemas mais icônicos, o Völuspá ("A profecia da vidente"), os acontecimentos são descritos em suas estrofes por uma Völva - uma espécie de vidente, na mitologia nórdica. Ela conta a Odin, o deus supremo, sobre a criação do universo, segredos dos deuses, fatos futuros e, inclusive, o destino final de tudo aquilo que vive, inclusive dos próprios deuses:
41. "Fyllisk fjörvi feigra manna,
rýðr ragna sjöt rauðum dreyra;
svört verða sólskin um sumur eftir,
veðr öll válynd. Vituð ér enn - eða hvat?"
veðr öll válynd. Vituð ér enn - eða hvat?"
(estrofe 41 do poema Völuspá, em nórdico antigo)
41. "Lá farta-se ele na carne dos mortos
E na morada dos deuses, com sangue derramado se avermelha
A escuridão o sol encobrirá e no início do verão
Fortes tempestades chegarão. Quer ainda saber mais?"
(tradução nossa, do inglês. Vide fonte)
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A völva Gróa e seu filho no monte (por W. G. Collingwood - 1908) |
A partir daí, a volvä narra os fatos seguintes, ao longo do breve poema, mencionando o estremecer e a aflição da grande Yggdrasil - a árvore do mundo -; o contorcer da furiosa serpente Jörmungandr, ocasionando colisões; o surgimento daqueles que habitam o fogo - os jötnar; o lamento dos anões frente à própria impotência; o avançar dos povos do sul e a separação dos céus. Os deuses, então, iniciam a batalha contra os invasores: Odin luta e acaba sendo devorado vivo pelo lobo Fenrir - pai dos lobos Skoll e Hatii, filho de Loki -, para a tristeza de sua esposa Frigga. Contudo, o lobo acaba sendo esfaqueado no coração e morto por seu filho, Víðarr. Thor, também filho de Odin, luta contra a furiosa serpente Jörmungandr e, depois de uma luta exaustiva, o deus do trovão cai desmaiado após andar nove passos. As pessoas se desesperam e fogem de suas casas; o sol perde sua cor, torna-se negro; a terra se afunda nos mares, as estrelas se apagam e, por fim, as chamas tocam o céu.
45. "Bræðr munu berjask ok at bönum verðask,
munu systrungar sifjum spilla;
hart er í heimi, hórdómr mikill,
skeggöld, skalmöld, skildir ro klofnir,
vindöld, vargöld, áðr veröld steypisk;
mun engi maðr öðrum þyrma."
hart er í heimi, hórdómr mikill,
skeggöld, skalmöld, skildir ro klofnir,
vindöld, vargöld, áðr veröld steypisk;
mun engi maðr öðrum þyrma."
(estrofe 45 do poema Völuspá, em nórdico antigo)
45. "Irmãos devem lutar e cair entre si
Nossos sobrinhos devem manchar seu parentesco;
Como é dura a Terra, com poderosa luxúria;
Tempo do machado, tempo da espada, escudos estão largados
Tempo do vento, tempo do lobo, antes do mundo cair;
Nenhum homem deve sobrar"
(tradução nossa, do inglês. Vide fonte)
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Thor lutando contra a grande serpente Jörmungandr (autor desconhecido) |
Após os trágicos acontecimentos, a völva continua sua previsão mencionando o ressurgir das coisas: o brilhar do sol novamente, o crescimento dos campos, os sobreviventes de Æsir e sobre um lorde que governará todas as terras. Por fim, descreve um grande dragão chamado Níðhöggr que voa pelos ares, cujas asas carregam corpos de homens. A völva encerra sua previsão e, então, afunda.
64. "Sal sér hon standa sólu fegra,
gulli þakðan á Gimléi;
þar skulu dyggvar dróttir byggja
ok um aldrdaga ynðis njóta."
gulli þakðan á Gimléi;
þar skulu dyggvar dróttir byggja
ok um aldrdaga ynðis njóta."
64. "Mais justo que o sol, um salão eu vejo,
Abrigado com ouro, em Gimle ele permanece
Lá devem haver os justos, governantes habitarão,
E a felicidade sempre eles devem ter"
Fontes
Imagens
Império dos Mitos: http://imperiodomito.blogspot.com.br/2014/03/criaturas-da-nordicas-jormungand.html
Trechos utilizados do Völuspá (em nórdico antigo e inglês)
Völuspá.org: http://www.voluspa.org/voluspa41-45.htm
Demais informações
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