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Belzebu - O inferno infestado de moscas

Dreno de alma que suga sua capacidade de atacar. O julgamento do inferno digno do príncipe daqueles que foram rejeitados por Deus. Aquele sono em área que te impossibilita de responder à altura. E quando você consegue fazer alguma coisa, aquele cast lento que, puf, quando você vai ver, já está no chão. E, como se não bastasse, moscas, muitas moscas. Moscas infernais tanto no nome quanto no que podem fazer com aqueles que ousam visitar o Príncipe das Trevas em sua morada maldita. Sim, é ele mesmo. Aquele que ocasionou a decadência do bispo de uma remota ilha já outrora abençoada por Deus. Agora, esta ilha é maldita, sem nome; morada daqueles que caíram no conceito divino e destinados à violência do destino. E nosso especial de MVPs é destinado a ele, o Príncipe das Trevas, da Gula, da Pestilência, das Enfermidades: O Belzebu.

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Sprite da carta Belzebu, em Ragnarök Online.


Etimologia

Belzebu, Beelzebul, Baal Zebub. Do hebraico Baʿal Zəvûv בַּעַל זְבוּב; do árabe Ba‘al adh-dhabâb بعل الذباب. Nomes adaptados de um deus da mitologia filisteia - nome derivado do povo filisteu, ocupante da costa sudoeste de Canaã. Nomes adotados também pelas religiões abraâmicas para um tipo de demônio alado. A forma original desta palavra era Baalzebube, cujo significado era "senhor das moscas". Posteriormente, os judeus passaram a usar o termo Baalzebel, que significa "senhor do esterco", termo usado para mostrar o ódio pelos deuses de outros cultos. Também era empregado o termo Baalzebul, cujo significado é "senhor da casa", isto é, da casa dos demônios; e assim o termo ganhou o sentido de "satanás" nos cultos cristãos.


Considerações Iniciais

Não é de hoje que questões sobre o Céu e o Inferno despertam curiosidades tanto dos agnósticos quanto dos gnósticos. Inclusive, existe um campo de estudos que se preocupa exclusivamente em estudar sobre o Inferno e as entidades que o habitam: a demonologia. Portanto, falar do chamado "príncipe das trevas", sem falar da demonologia, é uma tarefa um tanto árdua. Contudo, o termo "demonologia" parece ser amplo, podendo incorporar diversas religiões e/ou mitologias que se preocupam com as questões que tangenciam as criaturas malignas ou aquilo que é diferente do que entendemos por Bem - o conceito de "oni", da mitologia japonesa, por exemplo, refere-se à criaturas que podem ser tanto malignas quanto protetoras, mas que, muitas vezes, são traduzidas como "demônio" no conceito cristão da palavra, o que é algo dúbio. Como o assunto é amplo e poderia fugir ao que é proposto aqui, basearemos boa parte desse breve texto no conceito cristão (e bíblico) de demônio, ou seja, aquilo que o Cristianismo entende por demônio e inferno.


História

Na bíblia hebraica, Beelzebub (ou Belzebu) é compreendido como o "senhor das moscas". Segundo as mitologias fenícia e cananeia, o nome advém da junção do nome do deus Baal e do nome do seu arquiinimigo, Zebub. Baal, juntamente a outras entidades mágicas, derrotara Zebub em uma batalha épica e acabou por abrir um enorme abismo, sugando os dois deuses e os juntando em um único, formando o belth-zebul. O espírito dessa união foi arremessado na fossa do mais profundo inferno e permaneceu lá por anos, até ser resgatado por Satã. Desde então, os deuses unidos, percebendo que a força do Pai do Inferno era muito maior que a deles, juraram lealdade e foram proclamados um dos príncipes do inferno na nova forma de Belzebu. Baal significa "senhor" e, na mitologia fenícia, era tido como o principal deus do seu panteão, associado à figura da deusa Astaroth (ou Astarte), deusa da guerra, do sexo, da fertilidade e filha de Baal. Com a força do Cristianismo sobre as demais crenças consideradas pagãs, Belzebu fora considerado um falso ídolo pelos cristãos, sendo associado à figura de um demônio poderoso.

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Deusa Astaroth (ou Astarte), filha de Baal (Dictionnarie Infernal, 1818)




Demonologia 

Segundo a demonologia, o Inferno possui uma estrutura hierárquica de demônios e espíritos malignos por ordem de importância e poder que exercem sobre os demais. Como dito anteriormente, trabalharemos aqui com o conceito cristão do termo demônio, ou seja, um anjo caído e uma antonímia ao conceito cristão de Bem. Contudo, não deixa de ser interessante mencionar que o termo dissolve-se em conceitos diferentes em religiões como o islamismo, zoroastrismo e judaísmo, por exemplo. 

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O jinn é uma criatura associada ao bem e ao mal, podendo ser protetora ou maléfica, segundo o islamismo.
É o popular "gênio da lâmpada", na visão ocidental. Uma das classes de jinnis infernais mais famosa é o chamado Ifrit (esse mesmo) (autor desconhecido)

Segundo o Cristianismo, Deus criou os anjos como seus principais auxiliadores na manutenção da ordem das coisas do mundo. Contudo, nem todos os anjos seguem o esperado por Deus, e acabam por "caírem" no Inferno, tornando-se criaturas malignas chamadas de demônios. Um desses anjos caídos era dito como o ser mais belo do Paraíso, o mais iluminado de todos. Seu nome era Lúcifer e, posteriormente, viria a se tornar o Pai do Inferno e sua principal figura. De acordo com o Dictionnaire Infernal, principal livro de demonologia publicado em 1818 por Jacques de Plancy, a hierarquia dos demônios atribui aos mais poderosos o principado; e Belzebu, conhecido como um dos príncipes mais poderosos do Inferno, é descrito como "Príncipe dos Demônios"; "Senhor das Moscas"; "Senhor da Pestilência"; "Mestre da Ordem". Belzebu também é descrito como irmão de Lúcifer e pai de Belial, o senhor da luxúria. 

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Belial regressando aos portões do inferno (por Jacobus de Teramo, 1473).

Em 1589, o teólogo e bispo alemão Peter Binsfield associou cada demônio a um dos sete pecados capitais, já que o próprio pecado seria a própria manifestação demoníaca dos sete príncipes do inferno. Belzebu foi associado ao pecado da gula e, portanto, também conhecido como o príncipe da gula. Textos do período da Inquisição também associam a imagem de Belzebu com a do orgulho.


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Belzebu como o "Senhor das Moscas". Acreditava-se que ele enviava moscas para arruinar as colheitas do povo de Canaã. (autor desconhecido)

Abaixo, os Sete Príncipes do Inferno na ordem hierárquica e suas analogias com os sete pecados capitais, segundo a demonologia (a lista pode variar, a depender da fonte):

1 - Lúcifer (Orgulho)

2 - Asmodeus (Luxúria)

3 - Belzebu (Gula)

4 - Mammon (Avareza)

5 - Belphegor (Preguiça)

6 - Azazel/Satã (Ira)

7 - Leviathan (Inveja)


Um exorcista do século XVII chamado Sebastien Michaellis, em uma de suas obras datada em 1612, encaixou Belzebu na tríade dos mais proeminentes anjos caídos, juntamente a Lúcifer e Leviathan, enquanto obras do século XVIII sugerem a tríade composta por Belzebu, Lúcifer e Astaroth (ou Astarte). 



Bíblia

A bíblia cristã faz referências a Belzebu em alguns de seus versículos. Em um deles, Jesus é acusado pelos fariseus de ter curado um cego e mudo em nome de Belzebu, dito como o maior de todos os demônios. Jesus se defende: 

Mas os fariseus, ouvindo isto, murmuravam: Este não expele demônios senão pelo poder de Belzebu, maioral dos demônios. Jesus, porém, conhecendo-lhes os pensamentos, disse: Todo reino dividido contra si mesmo ficará deserto, e toda cidade ou casa dividida contra si mesma não subsistirá. Se Satanás expele a Satanás, dividido contra si mesmo; como, pois, subsistirá o seu reino? E, se eu expulso demônios por Belzebu, por quem os expulsam vossos filhos? Por isso, eles mesmos serão vossos juízes. (Mateus 12:24-27)

A presença do nome Belzebu, na Bíblia, é tido como controverso, uma vez que zeboul parece derivar de uma corruptela de zebûb, de zebel, um termo usado para se referir a "esterco" nas traduções em aramaico da bíblia hebraica. Ou também pode indicar o termo hebraico zebûl na frase bêt-zebûl que indicaria "morada elevada; templo magnífico":

Na realidade, construí para ti um templo magnífico, um lugar para nele habitares para sempre! (1 Reis 8:13)


O teólogo e estudioso da Bíblia, Thomas Kelly Cheyne, sugere que o termo Belzebu é uma corrupção do termo Ba‘al Zəbûl, cujo significado seria "Senhor supremo".



Literatura

A figura de Belzebu também encontra referências na literatura. Uma delas é no famoso clássico da literatura mundial Paraíso Perdido, de John Milton, publicado em 1667. O poema épico narra a rebelião dos anjos caídos no Paraíso, a conspiração de Satanás sobre Adão e Eva, a queda do homem e outras temáticas relacionadas. O autor aponta Belzebu como o segundo no ranking dos anjos caídos, ajudante de Satã.


Capa da primeira edição de 1667

Para os mais atentos, o sprite de Belzebu na carta, em Ragnarök Online, bem como no próprio MVP, carrega um livro curioso chamado de Necronomicon. Esse livro é fruto da obra de um dos maiores escritores do gênero de terror da literatura mundial: H.P Lovecraft, em alusão a um suposto livro real chamado "Al Azif", escrito em Damasco, por volta do ano de 730 d.C, por um poeta árabe chamado Abdul Alhazred. Segundo o escritor, esse grimório conteria rituais ligados ao ocultismo e à magia negra, com o intuito de ressuscitar os mortos e conectar-se ao mundo sobrenatural. Utilizando do mistério em torno do escrito supostamente real, Lovecraft escreveu contos fantásticos, creditando a autoria ao suposto autor árabe original. Devido ao teor verossímil e fantástico criado por Lovecraft em torno da obra, muitos fãs chegam a jurar que o Necronomicon, de fato, é um livro real, apesar do autor já ter mencionado algumas vezes que é pura ficção. Contudo, autores posteriores utilizaram da mesma fórmula de Lovecraft e criaram uma atmosfera ainda mais mística em torno do livro.


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Exemplar fictício do Necronomicon. A etimologia, segundo Lovecraft, vem do grego "nékros" (cadáver; morte); "nómos"
(lei); "eikón" (imagem). O livro, logo, seria a "imagem da lei da morte".
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Sprite do MVP em posse do Necronomicon (o nome do livro pode ser visto no sprite da carta) e de sua coroa, símbolo do seu título máximo de Príncipe do Inferno. Repare nas moscas, em alusão ao seu símbolo de "Senhor das Moscas"

Observações: as referências postadas aqui são fruto de pesquisas pessoais e suas fontes não são oficiais. Não houve qualquer pronunciamento oficial da Gravity para confirmar a veracidade delas. Portanto, qualquer erro e/ou incoerência, por favor, fique à vontade para entrar em contato. :) 

         

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